#7 | Do outro lado do por do sol
Cura, cor e continuidade: uma travessia entre mundos, flores e ventre.
Há cinco anos, a cor laranja ganhou outro significado pra mim. Nunca gostei muito de laranja. Minha mãe, por outro lado, amava. Todas as cores quentes, solares, cheias de vida, eram suas preferidas. Mais tarde entendi o motivo da minha certa rejeição: na coloração pessoal, sou “inverno frio”.
Ela sabia disso, e a cor virou uma brincadeira entre nós. Sempre que via algo alaranjado, me mandava por mensagem — às vezes em tom de pirraça. Um vestido, uma flor. Algo pequeno, mas cheio de afeto.
14 de junho de 2020.
Recebemos a ligação que temíamos há três semanas. Minha mãe estava internada na UTI com Covid, contraído dentro do hospital, o que agravou seu quadro. Nosso primo, geriatra, que nos atualizava diariamente, nos ligou pela manhã: "Acho que chegou a hora de deixar minha tia descansar."
Escrevo isso às lágrimas. Não temos tantas oportunidades quanto a escrita para contar algo tão dilacerante sem que o outro desvie o olhar, fique desconcertado ou perca a chance de perceber a beleza oculta entre morte e vida. Aqui, nesta escrita, cada um de vocês poderá pausar, chorar, fugir ou acolher o que surgir.
Chegou minha vez de contar, do jeito que EU preciso. Sobre momentos da vida que insistimos em tratar como exceção ou nos recusamos a considerar como parte da experiência humana.
Não deu tempo de me despedir da minha mãe.
E a responsabilidade foi minha.
Ela se internou com algumas manchas no pulmão, ainda nos primeiros meses da pandemia. Vinha tratando crises de tosse e dores reumatológicas - a suspeita, confirmada após sua morte, era uma síndrome autoimune que, dentre muitos sintomas, também causava uma inflamação chamada "vasculite pulmonar".
A pneumologista, que a acompanhava desde fevereiro, havia pedido exames, mas não era urgente.
Até que começou a tossir sangue. Precisou investigar mais a fundo.
Minha irmã a levou ao hospital. A ideia era buscá-la mais tarde, quando o exame ficasse pronto.
Foi a última vez que minha irmã a viu.
O exame revelou o pulmão tomado por manchas. Ela ficou internada para acompanhamento. Era um sábado.
Domingo de madrugada, peguei a estrada rumo a Salvador.
Cheguei na segunda. Ela ainda estava bem. A esperança nos vestia sem alarde. Enviei a sinopse de alguns livros que eu sabia que ela gostaria para que ela escolhesse. Levaria para o hospital ou mesmo os deixaria esperando por ela no seu retorno para casa - se tudo "desse certo" - no fim de semana. Guardei-os sem saber o porquê. É como se eu precisasse lê-los por ela. Ainda não tive coragem.
Isso durou até quinta-feira, quando iniciou um tratamento semelhante à quimioterapia, para conter a inflamação. O teste de Covid ainda era negativo.
Meu tio, irmão mais novo dela, buscou roupas e itens de higiene em casa. Mandei junto desenhos e canetas coloridas pra distraí-la. Eu vinha enviando, por e-mail, desenhos de mandalas, flores, jardins e pássaros, desde março, tudo em preto e branco, só pra ela clicar “imprimir”. Ela tinha muitas resistências à tecnologia e isso facilitaria um novo hobby.
Guardo até hoje esses desenhos coloridos pelas mãos que cuidaram de mim por 68 anos, nos dias que antecederam sua partida deste plano.
Na quinta-feira, acordei com a garganta inflamada.
Evitei ir até ela. Não queria levá-la risco. Ela me pediu que dormisse com ela naquele dia. Respondi que, se acordasse melhor, iria na sexta pela manhã. Só pra garantir.
Às 6h, o telefone tocou.
Estavam levando minha mãe pra UTI. A saturação havia despencado.
Cheguei no hospital 40 minutos depois. Não deu tempo.
Até hoje não sei explicar o que senti.
Chorando, sozinha no hall do hospital, sem poder entrar. Esperando um boletim. Um boletim. Um conjunto de palavras que resume o abismo entre a vida e a ausência dela.
Ela foi entubada, extubada, entubada de novo.
Recusou chamadas por vídeo. Estava deprimida, cansada, talvez sem mais forças para sorrir diante de uma câmera.
Enquanto isso, meu pai mergulhava no silêncio. Cada canto da casa gritava a sua ausência.
A letra na caixinha dos remédios, o sutiã pendurado atrás da porta para voltar a usar no "dia seguinte", os doramas salvos no Netflix (ela os descobriu muito antes do hype).
Um filme de terror psicológico por três semanas.
Nos apegávamos a cada pequena notícia. “Melhora, piora ou estável.”
A psicóloga dizia que massageava seus pés com delicadeza, tentando trazer um pouco de conforto em meio ao caos. Eu imaginava suas mãos ali, tocando aquele corpo que me deu a vida. Era um sopro de humanidade. E, confesso, um tanto de inveja — por não poder ser eu a fazer esse gesto de amor derradeiro.
Meu irmão enviou um áudio cantando “Rosa”, de Marisa Monte. Ela escutou. Ainda acordada.
Tu és divina e graciosa
Estátua majestosa do amor
Do amor, por Deus esculturada
E formada com ardor
Da alma, da mais linda flor, de mais ativo olor
Que na vida é preferida pelo beija-flor
Tantos vídeos com a hashtag #tetetycurada. Ainda não consegui apagá-los.
Lembro do dia em que segurei meu pai.
Ele queria ir ao hospital. Convencer alguém a deixá-lo vê-la.
A pandemia não permitia.
Não sei como sobrevivi àqueles dias.
Nem ao domingo seguinte — aquele mesmo em que meu primo nos ligou dizendo que era hora de deixá-la descansar — quando acordei de um sonho: ela estava em todos os cantos da casa, dizendo “tchau”.
14h07 (seu aniversário é 14/07 e também por isso nunca esqueci).
Embaixo do pé de jamelão, que tantas vezes acolheu momentos da infância, recebemos a ligação de que ela havia partido após poucas horas de desligados os aparelhos.
Dali em diante, só a espiritualidade, meu parceiro e eu sabemos o que passei. Sem velório, nos despedimos dela no caixão fechado que ainda estava dentro do carro da funerária. Eu, minha irmã, meu pai, meu tio e meu parceiro. As 05 pessoas permitidas para isso que mal se pode chamar de despedida.
Depois disso, foi só resistir com o que restava.
Respirar com dor, comer com vazio, viver por instinto. Cada pequeno gesto era um esforço sobre-humano. Sobreviver, naquela época, era acordar e lembrar que o mundo seguia — mesmo sem ela. Era manter de pé a casa, o pai, a rotina, enquanto por dentro tudo desmoronava em silêncio.
Tentar “manter meu pai vivo”, após 03 semanas de puro desolamento, afundado agora na depressão profunda. Ter que cuidar da casa e dele, tarefa magnaninamente realizada por minha mãe por tantos anos, foi a maior prova de amor que eu poderia dar pra meus pais.
É tanto que não cabe aqui. Mesmo que eu tente.
Ufa.
Sobrevivi a 2020.
E decidi, por ela, dar sentido à vida.
A tudo que ela me ensinou.
Outubro de 2023.
Após um mês de uma dieta anti-inflamatória radical, me reencontrei com a medicina da Ayahuasca. O ritual era de Ogum. Fiquei com a adaga no peito o tempo todo.
Em uma das passagens, pedi força. Senti uma mão sobre a minha.
Era ela.
Perguntei se seria mãe. Se conseguiria sem ela.
Ela não respondeu. Só disse:
"Estarei no laranja."
"Laranja como pôr do sol?"
"Exatamente. O mais lindo pôr do sol."
Ela deslizou minha mão até meu ventre e ficou ali.
O laranja mais vivo que já vi tomou conta. Figuras geométricas dançavam no meu chakra sexual.
Ela estava me curando.
Quatro dias depois, concebi Luna.
Dezembro de 2023, teste positivo.
Minha bebê.
Meu por do sol do cerrado nasceria 08 meses depois, florescendo junto com os ipês amarelos que ela tanto amava.
O laranja mais resplandecente que já existiu.
A lembrança viva de minha mãe.
E assim, vivendo a melhor versão de mim, curtindo cada passo do caminho e enxergando cor na vida…
Te honro, mãe.
(e se você chegou até aqui, me conta o que esse texto te fez sentir?)
🌈Música para Elevar a Vibração
Toda semana uma sugestão de música para inserir na sua playlist quando precisar daquele “tapa no astral” (a ideia é escutar com presença: respira, concentra e dá play pra sentir!)
Uma das características mais marcantes de minha mãe era sua forma solar de viver a vida. Ela sempre foi um sopro de positividade — às vezes até demais… hahaha. E usava adjetivos muito próprios:
"Bótimo" (um update no “ótimo!”),
"O máximo!" (essa sua roupa está o máximo),
"Um barato!" (esse Luiz é um barato, viu?!).
Ontem, essa música tocou e parecia que era ela quem estava cantando pra mim.
Fica aqui a alegria da Dona Tetety para inspirar sua semana — com cor, leveza e vontade de viver:
🎵 Quando a gente tá contente
Nem pensar que está contente
Nem pensar que está contente
A gente quer
Nem pensar a gente quer
A gente quer, a gente quer
A gente quer é viver 🎵
🛸 Balacobaco Cósmico
O que esperar da energia da semana, de acordo com o Sincronário das 13 Luas e o Tzolkin (porque já tem gente demais falando dos astros)
(leitura válida de 16 a 22 de junho de 2025)
🌫️ Continuamos imersos na Onda Encantada da Tormenta Azul, que nos chama à regeneração, à liberação e ao renascimento — tanto interior quanto coletivo.
Sair desse ciclo é aceitar o desafio de emergir renovados, com mais verdade e menos bagagens desnecessárias.
📅 Segunda (16/06) – Kin 84: Semente Rítmica Amarela
Hora de plantar com igualdade e equilíbrio.
🌀 O que você está semeando para florescer de forma justa?
📅 Terça (17/06) – Kin 85: Serpente Ressonante Vermelha
Sintonize com o corpo. Energia autêntica nasce da atenção ao sentir.
🌀 O que seu corpo está pedindo agora?
📅 Quarta (18/06) – Kin 86: Enlaçador de Mundos Galáctico Branco
Oportunidade de reconexão com o essencial.
🌀 Que laços precisam ser harmonizados para seguir leve?
📅 Quinta (19/06) – Kin 87: Mão Solar Azul
Criar cura com intenções claras.
🌀 Como você pode tocar o mundo com sua sabedoria?
📅 Sexta (20/06) – Kin 88: Estrela Planetária Amarela
Beleza prática que inspira.
🌀 Onde você pode trazer mais arte para o seu cotidiano?
📅 Sábado (21/06) – Kin 89: Lua Espectral Vermelha
Permita que as emoções fluam — e se reinvente.
🌀 Que sensações você está deixando dissolver?
📅 Domingo (22/06) – Kin 90: Cachorro Cristal Branco
Amor que mantém o equilíbrio coletivo.
🌀 Como seu afeto se reflete nas pequenas grandes coisas?
🌬️ Soprando possibilidades
Algumas formas de se conectar mais profundamente comigo (além da newsletter).
Neste momento, meus atendimentos individuais estão suspensos, mas sigo em movimento — sentindo, escutando e criando formas mais vivas de conexão.
Atendendo a pedidos de pessoas queridas que estão distante, trago o convite para nossa próxima vivência…
✨ Vivência online – “Habitando a Abundância”
Nem busca, nem promessa.
Só a lembrança de que a abundância começa quando você se permite estar.
Uma vivência para dissolver a ideia de que é preciso conquistar algo — e abrir espaço para perceber o que já vibra com você.🌾
🗓️ Data e horário: julho (data a definir)
💻 Online (link enviado por e-mail)
🌘 O que quer vir à tona?
Uma leitura para dar nome ao que emerge — e acolher com coragem as mensagens da sua própria consciência.
Use essa tiragem como um convite: a pausar, a observar, a se perguntar.
Ela não vem para prever — mas para refletir o que já pulsa em você pedindo espaço.
Deixe que a mensagem encontre o seu tempo.
(leitura válida de 16 a 22/06/2025)
O Sol veio nos lembrar da única certeza real que temos — além da morte física: ele sempre nasce de novo. Todos os dias.
Não importa o quão escura tenha sido a noite, ele volta.
E nisso há uma força que, muitas vezes, esquecemos de honrar:
a da renovação cotidiana, a da esperança silenciosa, a da vida que insiste em continuar.
Quantas vezes a gente ouve que cada dia é uma nova chance?
Mas quantas vezes a gente realmente se lembra disso ao acordar?
A carta do Sol vem ser mais uma das mil lembranças que a vida oferece —
pra gente aprender a valorizar o agora, mesmo que ele não seja exatamente como gostaríamos.
Mesmo nas queixas, nos incômodos, nos dias em que há dor…
há algo que resiste e brilha — mesmo que fraquinho — lá dentro.
E é sobre isso que a carta fala:
De nos darmos conta da vida.
De escolhermos tomar a vida nas mãos, com coragem.
De ressignificarmos o que não temos mais.
De agradecermos pelo que ainda nos compõe: o corpo que se move, os olhos que enxergam, a respiração que ainda pulsa.
E se hoje não der certo, tudo bem.
Permita-se sentir. Permita-se deitar com o que é.
E, ao dormir, faça um gesto simbólico:
mentalize que amanhã tudo pode ser novo de novo.
🎁 Presente da Essência: quer receber um chamado só seu?
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Boa sorte! E que a presença te encontre 🌀
Aff, impossível não se emocionar, impossível não ver alguns pequenos sinais de coincidências dai e daqui. Recebi no e-mail mas me preparei para ler pois saberia do "risco" de vir a tona sentimentos de saudade aqui, e queria estar total entregue e leitura e ao sentir. Vejo e sinto vocês em cada letra desse relato, do outro lado do por do sol tem tanta surpresa boa vindo... o que seria desse laranja sem esse significado tão especial pra você e Luna agora né? Ela se faz presente de uma forma tão linda que agora não olharei mais esse laranja sem lembrar dela. Um abraço e um xero em vocês, amo tu
O seu relato veio como um recado para mim, um sinal. Acredita que hoje mesmo lembrei de você, se você já teria consagrado a Ayuasca e pensando em como seria bom conversar contigo. Isso foi antes de receber o seu email.
Também não tive a oportunidade de me despedir da minha mãe e talvez tenha chegado a hora.